Alimentação infantil: de tudo um pouco

Atualizado em 14 de julho de 2008
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Por Mariana Romão

Comer, comer é o melhor para poder crescer. Ok. A frase virou até hit nos anos 80. Mas o que não pode, alertam os especialistas, é deixar a criançada comer o que tem vontade e a qualquer hora do dia.

“O importante é inserir carboidrato, cálcio, proteína, ferro, vitaminas e evitar ao máximo o açúcar refinado. E aliar a isso a prática esportiva”, ensina a nutricionista materno-infantil Priscila Rosa, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). “Além das três refeições principais, o certo é se alimentar pouco de três em três horas”, completa a nutricionista.

De maneira geral, os nutrientes importantes para cada faixa etária não variam. O que se modifica é que à medida que a criança cresce, a ingestão calórica diária aumenta.

Difícil é aplicar esse cardápio ideal nos dias atuais. “O aparecimento de novas guloseimas, os salgadinhos, bolachas doces, fast food tornam o trabalho das mães muito mais complicado. As crianças perdem o paladar e a vontade pelos alimentos considerados saudáveis e essenciais na alimentação”, afirma Priscila.

Então qual é a maneira de coibir esse hábito alimentar errado? “Ensinar, induzir desde o nascimento.”

Para o bebê, leite
Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), o aleitamento materno é recomendado até os dois anos de idade. A amamentação deve ser exclusiva materna e única fonte de alimento até os seis meses de vida, e não há com o que se preocupar: até essa idade o leite materno supre todas as carências de vitamina do bebê.

“Dos seis meses em diante, a mãe começa a incluir uma alimentação complementar, que é o que os especialistas chamam de grande refeição ou refeição de sal”, explica Elisa Lacerda, professora do Instituto de Nutrição Josué de Castro da UFRJ. Ao introduzir o almoço, é importante prestar atenção e incluir um alimento de cada grupo:

Grupo da energia: arroz, batata, aipim, inhame, macarrão, frutas.
Grupo das proteínas: carne vermelha, ave, peixe, frango.
Grupo das vitaminas e minerais: os coloridos, como cenoura, abóbora, couve-flor, abobrinha e chuchu e os folhosos, fonte de ferro e fibras, como espinafre, bertalha, brócolis e agrião.
Grupo das leguminosas: feijão, ervilha, lentilha, grão de bico.

A consistência desses alimentos, segundo a professora, deve ter um aspecto quase líquido. “Cozinhe, amasse bem, deixe bem cortadinho para facilitar a mastigação e a digestão”, ensina. A sobremesa, desde essa idade, deve ser sempre fruta. “Principalmente as da época, porque são mais saudáveis, têm menos agrotóxico. A fruta é boa porque não é tão concentrada em açúcar, e a vitamina C presente nelas melhora a absorção de ferro dos alimentos.”

A partir do sétimo ou oitavo mês, a mãe pode começar a incluir também o jantar, sempre no mesmo esquema do almoço. Elisa explica que até um ano e meio, a mãe vai tentar evoluir em consistência dos alimentos. “É importante lembrar que alimentos líquidos não treinam a mastigação, portanto, o legal são os pastosos.” Com um ano, os pais já podem ter a companhia do filho nas refeições de família. Esse deve ser o momento em que o bebê começa a se adaptar ao tipo de alimentação do adulto, mas desde que tudo seja preparado com temperos caseiros e óleo vegetal.

O leite, que ainda é essencial para o organismo, depois do segundo ano já pode ser tomado apenas no café da manhã, lanche da tarde e ceia. Mas Elisa dá a dica de que é preferível que o leite seja dado em copinho, uma maneira de trabalhar o esforço da criança. Outro aspecto sobre o qual as mães precisam ficar de olho é a ingestão de ferro. “Dos seis meses aos dois anos é freqüente a ocorrência de anemia, porque essa é uma fase em que eles crescem muito rápido”, comenta Elisa.

“Não gosto, não quero”
Os pais de crianças entre três e doze anos, principalmente, é que sabem como é ouvir o filho recusar algum alimento. Nessa fase, os pequenos têm uma redução normal do apetite, o que a nutricionista Priscila Rosa identifica como anorexia fisiológica: a alimentação passa a ser uma coisa menos interessante para eles na medida em que vão expandindo os limites do mundo. Eles também descobrem suas próprias preferências e passam a rejeitar o que é imposto pelos pais.

A professora Elisa afirma que não é preciso ficar preocupado, porque é esse comportamento costuma passar, e a perda de peso, quando há, não é tão significativa. “Quando a criança é sadia, por mais que esteja demonstrando menos interesse pelas refeições, assim que sentir fome ela não recusará comida”, explica.

O que não deve ser feito é forçar a criança a comer. Quando isso é feito, ela passa a associar o alimento que não gosta ou a prêmios ou a castigos. “Coma e te deixo jogar videogame. Não coma e te proíbo de assistir à TV.” Esse é o tipo de atitude que os pais não podem tomar, porque correm o risco de, mais tarde, verem seus filhos comendo por obrigação, sem a idéia de alimentação sadia. Por falar em TV, a garotada deve comer longe desse aparelho, porque tira a atenção e a criança passa a comer sem perceber, às vezes até mais do que é necessário, além de não apreciar tanto os alimentos.

“Atenção especial para a ingestão de ferro, cálcio e zinco, três sais minerais importantíssimos e diretamente ligados à performance da criança”, alerta Ana Lucia de Sá Pinto, pediatra e médica do esporte do Ambulatório de Medicina Esportiva do Hospital das Clínicas.

A explicação para tanta importância, segundo Ana Lucia, é que o ferro é um componente fundamental da hemoglobina, substância que circula no sangue dentro dos glóbulos vermelhos e é responsável pelo transporte de oxigênio para todos os tecidos do corpo humano. Já o zinco, melhora a atenção, a imunidade e ajuda a liberar hormônios do crescimento. Ambos estão presentes na carne vermelha, frango, ovo e verduras verde-escuras. A recomendação de ingestão diária é de três colheres de sopa no almoço e três no jantar.

Já o cálcio, fundamental para a saúde dos ossos, tem recomendação diária de 1,3 g. “Para se ter uma idéia da relevância desse mineral, 95% da formação de massa óssea acontece até os 17 anos para as meninas e até os 19 anos para os meninos”, conta Ana Lucia. O ideal é consumir alimentos ricos em cálcio, como queijos, leite e iogurte, em porções médias quatro vezes ao dia.

Às vezes, a falta desse nutriente nem é somente por causa da baixa ingestão dos alimentos fonte. “Os nutrientes brigam no intestino para ver qual consegue se sobressair mais. É a chamada biodisponibilidade”, ensina Ana Lucia. Então, para não desperdiçar todo o ferro consumido nas refeições, é importante evitar sobremesas à base de leite, como pudim, sorvete ou iogurte. “O recomendado é dar um intervalo de mais ou menos duas horas antes e depois das refeições para ingerí-los.”

Mas nem todas as crianças seguem essas recomendações. É o caso de Luisa Barba, 10, nadadora competitiva há cinco anos e campeã paulista em três categorias. A mãe, Lucilene Barba, percebeu que a menina crescia em altura, e o peso não acompanhava. “Ela era muito enjoada para comer, ainda hoje é um pouco. Não gosta de verdura, legume e fruta”, conta.

As avaliações mostraram que os índices de nutrientes no organismo da menina estavam abaixo do normal. “A solução que encontrei foi misturar os alimentos. Faço arroz com cenoura picada, bife com tomate refogado. Dá uma disfarçada, e assim ela come o que precisa”, diz Lucilene.

Almoço e jantar
En
trada:
um prato de sobremesa de salada, com tomate, alface, agrião, pepino ou outra verdura.

Prato principal: metade com arroz, feijão, massa, um quarto com proteína (peixe, carne e frango) e um quarto com verduras, que podem ser cozidas, como chuchu e abobrinha. De sobremesa, uma fruta.

:: Ingestão diária de calorias
Até dois anos – 1.000 cal
Pré-escolar – 1.400 a 1.500 cal
Escolar – 1.800 cal

Comida x escola
Na fase escolar, a maior diferença é justamente a adaptação a um novo ambiente. Cuidar da alimentação, a partir do momento em que a criança começa a freqüentar as aulas fica mais difícil. “A começar pela influência dos amigos e da merenda escolar de cada um. O contato com as guloseimas começa a ficar cada vez maior”, comenta a professora Elisa Lacerda.

A dica da pediatra Ana Lucia é que os pais evitem mandar na lancheira dos filhos os alimentos ricos em gorduras, como o pão de queijo, coxinha ou pizza, porque demoram mais para ser digeridos e, chega na hora do almoço, a criança ainda não tem fome. “Pão integral com queijo ou geléia, uma fatia de bolo caseiro e um suco ou um achocolatado são ótimas opções. Já os que comem na cantina, dêem preferência aos assados ou ao queijo quente”, ensina.

A criança atleta
“Infelizmente não existe nas recomendações alimentares a quantidade de nutrientes necessária para cada faixa etária da criança atleta”, comenta a pediatra Ana Lucia. Segundo ela, como a recomendação que existe é em termos gerais, os pequenos esportistas precisam ser monitorados em cima do controle do peso e de alguns exames laboratoriais.

A criança atleta precisa consumir bem mais energia do que uma criança sedentária. “Isso é fato. O raciocínio simples dá o resultado: ela precisa comer mais, porque gasta mais energia.”

Para os dias de atividade física
Líquidos: devem ser consumidos durante todo o dia. Durante o exercício, beber entre 100 ml e 240 ml a cada vinte minutos. Ao final da atividade, ingerir entre 200 ml e 240 ml. Crianças que pularem o lanche da tarde precisam levar consigo durante os treinos uma mistura de carboidrato em pó e água.

Refeições: alimentar-se antes do exercício para prevenir a sensação de fome e manter boas concentrações de glicose no sangue. Após o treino, ingerir uma fonte de proteína e carboidrato, um lanche pequeno. Para as crianças que saem do treino e jantam em até 45 minutos e uma hora, o lanche não é tão necessário.