Ajustes do posicionamento do corpo sobre a bike

Atualizado em 24 de abril de 2011
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O posicionamento do ciclista na bicicleta é uma questão que ainda é muito debatida e cercada de dúvidas entre os cientistas do esporte para que seja otimizado o conforto e desempenho.

Primeiramente, deve-se destacar que dois aspectos principais são definitivos para o posicionamento adequado do ciclista: (1) o ajuste adequado dos equipamentos e (2) a relação destes com o “tamanho” dos segmentos do ciclista. Outros fatores como a modalidade envolvida e a geografia do relevo em que a prova vai ser disputada também devem ser considerados. A compreensão de como estes fatores se inter-relacionam se faz importante a fim de prover um melhor conforto e/ou desempenho em dependência das características da prova.

A relação entre o comprimento do membro inferior e do tronco determinará as duas principais dimensões do quadro da bicicleta: o comprimento do seat tube (tubo em que o banco é fixado e que define o seat tube angle, ou ângulo do tubo do selim) e do tubo horizontal, que determina a distância do selim até o guidão, respectivamente. Se esta proporção não for considerada quando da interação ciclista-bicicleta, com certeza o desempenho poderá ser subestimado com possíveis implicações sobre a saúde do ciclista podendo vir a ser um fator de abandono do esporte (Mestdagh, 1997).

Além da altura e da regulagem frente/atrás do selim (Diefenthaeler et al, 2006), outras variações devem ser destacadas, como o ajuste horizontal, relativo a inclinação para cima ou para baixo (Salai et al, 1999), assim como o ajuste do guidão. Todas elas geram diferentes padrões de sustentação sobre a bicicleta, de recrutamento muscular, sendo que estes também dependem diretamente da modalidade de ciclismo envolvida e da característica de prova. Uma relação de dependência se estabelece durante o ajuste do selim e do guidão.

As diferentes modalidades do ciclismo (ex: MTB, estrada, triathlon) requerem ajustes corporais distintos de acordo com suas necessidades e características do equipamento. Em provas de MTB, não se tem o fator aerodinâmico como determinante do desempenho.

Dessa forma, a diferença entre a altura do guidão e do selim tende a ser menor, provendo assim um melhor conforto e facilidade durante as manobras. Já nas modalidades de estrada e triathlon se têm o fator aerodinâmico como determinante do desempenho.
Adota-se então um posicionamento do tronco um pouco mais inclinado, acarretando uma maior diferença entre a altura do guidão e do selim. Com a redução da área frontal do ciclista minimiza-se também o arrasto aerodinâmico, que apesar de benéfico, é um posicionamento que gera um nível considerável de desconforto.

A distância de prova combinada com as características aerodinâmicas do ambiente de prova também poderiam ser fatores influentes no ajuste dos equipamentos. Apesar disso, são variáveis não frequentemente consideradas pelos ciclistas. A mudança constante na altura de um ou outro equipamento acarretaria modificações na capacidade de produção de força tanto dos membros superiores quanto inferiores em função de o ciclista estar acostumado, por vezes ao longo de anos de treinamento, à um ajuste fixo do conjunto bicicleta-componentes.  

Normalmente, em provas com predomínio de um terreno plano, adota-se uma regulagem de selim o mais próxima possível da horizontal, pois uma inclinação do tronco maior (posição aerodinâmica) será adotada apenas em determinados trechos de prova (subidas ou sprints).

Para minimizar a pressão envolvida na região do períneo durante a adoção deste posicionamento, selins vazados atendem a esta necessidade. Já em provas com predomínio de subidas, uma inclinação do selim para baixo (10° a 15°, dependendo da geografia do relevo) facilita o ajuste da pelve sobre o selim e da inclinação do tronco para fins de deslocamento do centro de gravidade para frente, buscando melhorar a produção de potência e o conforto.

Porém, com este ajuste em provas com predomínio de descidas, haveria uma sobrecarga maior no apoio com o guidão, ocorrendo então maior exigência da musculatura envolvida nesta ação (principalmente cintura escapular e membros superiores), o que comprometeria o desempenho e dificultaria a estabilização da pelve sobre o selim. Para que isso seja evitado, inclina-se o selim levemente para cima, em torno de 10 a 15°, na busca de minimizar o gasto de energia e propiciar uma melhor estabilidade, conforto e desempenho durante a pedalada.

Como complemento aos ajustes citados acima, tem-se o tipo de selim a ser adotado. O tamanho ideal de selim deve abranger os dois pontos principais de contato do quadril: os ossos ísquios, que fornecem a base de sustentação para uma pedalada com qualidade.

Selins mais largos com certeza minimizariam o grau da pressão exercida na região do períneo. O ponto negativo é que dificultariam a movimentação de pernas durante a pedalada, principalmente na fase de propulsão. É justamente por isso que não é indicado este tipo de selim no alto rendimento, sendo frequentemente utilizado por ciclistas recreacionais de todas as categorias.

Dessa forma, pôde-se perceber que o posicionamento na bicicleta não depende apenas da altura do selim, embora esse seja o erro mais comum, mas também de um conjunto de aspectos que devem ser considerados de forma conjunta na busca de um posicionamento o mais próximo do ideal.

REFERÊNCIAS
Mestdagh, K. V. Personal perspective: in search of an optimum cycling posture. Applied Ergonomics, Kidlington, v. 29, n. 5, p. 325-334. 1998.

Diefenthaeler, F., Bini, R. R. Assessment of the effects of saddle position on cyclist pedaling technique. Medicine & Science in Sports & Exercise, v. 38, n. 5, p. S181. 2006.

Salai M, Brosh T, Blankstein A, Oran A, Chechik A. Effect of changing the saddle angle on the incidence of low back pain in recreational bicyclists. Brazilian Journal of Sports Medicine, v. 33, p. 398-400. 1999.