A mais tradicional

Atualizado em 22 de abril de 2009
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Texto e foto Ronaldo Ribeiro, de Boston

É fácil entender o charme e a aura que envolvem a Maratona de Boston. Junte no mesmo evento as seguintes características: um percurso imitando as subidas e descidas entre as cidades gregas de Maratona e Atenas, que inspiram a distância da modalidade; a rigorosa seleção dos participantes da prova por seus tempos de qualificação; o fato de que Boston é a corrida de rua mais antiga dos Estados Unidos e uma das cinco do World Marathon Majors, além de Londres, Berlin, Chicago e Nova York:

“Boston é a vovó das maratonas”, brincou a estrela americana, Ryan Hall. Pronto. Bem-vindos à terra da prestigiosa universidade de Harvard, e por onde deram suas passadas figuras como os presidentes Barack Obama e John Kennedy, ou o multimilionário Bill Gates.

A bela e as feras
Nos dias que antecederam a prova, o rosto de modelo da jovem e principal maratonista americana da atualidade, Kara Goucher, escondia bem a determinação de uma guerreira: “Quando comecei, sempre passava mal de tanto fazer força nas competições”, disse Goucher, em entrevista coletiva, após ter finalizado a prova em 3º lugar, com 2h32min25s. Os gritos de “go Kara!” aumentaram – e muito – assim que a etíope Dire Tune e a queniana Salina Kosgei tomaram a frente, já na reta final.

A vitória ficou com Kosgei, que finalizou os 42 km no tempo de 2h32min16s, seguida de Tune, apenas um segundo atrás. Goucher cruzou a linha em prantos, e foi consolada pelo marido. Enquanto caminhava em direção ao hotel onde se encontravam a maioria dos atletas de elite, grupos de fãs gritavam a mesma coisa. “Great race, Kara! We love you!” (Excelente prova, Kara! Nós te amamos).

Ryan Hall X Robert Cheruiyot
O queniano Robert Cheriout é bem conhecido na cidade de Boston por suas quatro vitórias. “Aqui é minha segunda casa”, afirmou o africano no final de 2008. Na largada, ele acenava e sorria para muitos torcedores que gritavam “go Patrick!” (vai Patrick). Próximo a ele estava Ryan Hall, que, apesar de ter o melhor tempo de qualificação da elite, não escondia a pressão de reescrever a história do americano Bill Rodgers, quatro vezes campeão em Boston na década de 1970.

Hall liderou a prova por quase todo o percurso até o ataque do etiope Deriba Merga, próximo ao km 25. Ele venceu com o tempo de 2h08min42s. Após a prova, Merga mencionou a ajuda de seu mentor e parceiro de treino, Haile Gebrselassie, o recordista mundial de maratonas.

“Haile é para mim um grande amigo e uma inspiração”, disse. Ryan Hall se mostrava bastante satisfeito com a sua atuação e o terceiro lugar. “Não estou nem um pouco desapontado. Mostrei que posso vencer em Boston. Tenho apenas 26 anos e ainda estou aprendendo sobre o percurso e sobre mim”, falou o americano. Robert Cheruiyout [o mais novo, não o tetracampeão de Boston] ficou apenas com a quinta colocação e o tempo de 2h10min06s. “Não foi o meu dia”, lamentou Cheruiyot.

Os brasileiros de “elite”
Um time de primeira representou o Brasil na mais tradicional das corridas de rua. “Estava em um estado deplorável de dor e emoção. A Maratona de Boston foi a pior e a melhor das seis maratonas que corri. Pior porque não estava preparada para o frio, antes da largada. Por outro lado, fiquei apaixonada com a organização e com as centenas de pessoas gritando ‘Go Brazil…’ e enrolando a língua para gritar ‘go Maaaria Claaara!”, disse a melhor brasileira em Boston, a mineira Maria Clara Castro, 34.

A segunda entre as brasileiras, Juliana Braga, 34, teve experiência semelhante a de Maria Clara: “Essa foi a prova mais difícil de meu currículo como maratonista! Ventava muito, fazia bastante frio. Completar uma prova como essa é, sem dúvida, uma grande conquista. A corrida nos ensina a ter humildade e autoconhecimento ao longo do treinamento”, falou.

Entre os homens, o melhor foi o educador físico e treinador da HF Assessoria Esportiva, Heleno Fortes, 36, que apontou alguns aspectos mais técnicos da prova: “Ao contrário do que normalmente se pensa, não são as subidas as grandes inimigas aqui, mas sim as descidas, que castigam a musculatura. É preciso saber dosar bem nelas”. Em Boston, experiência e tradição se unem em uma maratona espetacular.

Os dez melhores brasileiros

Masculino
Heleno Ribeiro, 2h43min22s
Manoel Leal, 2h52min43s
Iberê de Castro Dias, 2h53min41s
José Junior Oliveira, 2h56min39s
Alexandre M. Pereira, 2h57min19s
Rafael Kuhnen, 3h03min42s
Sandro Nobre, 3h05min05s
Luiz Silveira, 3h08min19s
Yuri Figueiredo, 3h09min05s
Gustavo Mattos, 3h09min39s

Feminino
Maria Clara Castro, 2h58min36s
Juliana Braga, 3h06min57s
Camila Stolf, 3h20min36s
Rosana Magli, 3h32min58s
Maria Bertoletti Gamboa, 3h34min37s
Ilka Cordeiro, 3h35min26s
Graciema Bertoletti, 3h39min38s
Ana Cristina Lopez, 3h43min14s
Solange Manto, 3h45min22s
Renata Britto-Pereira, 3h50min31s

Maratona de Boston – EUA
Data: 20 de abril de 2009
Horário: 9h30 (feminine) e 10h (masculina)
Distância: 42 km
Temperatura: 8ºC (média)
Inscritos: 26.331 mil
Homens: 15.397 (58,5%)
Mulheres: 10.934 (41,5%)
Premiação: US$ 806.000
Inscrição: US$ 110 (norte-americanos) e US$ 150 (estrangeiros)

Pódio:
Masculino
Deriba Merga (ETI), 2h08min42s; Daniel Rono (QUE), 2h09min32s; Ryan Hall (EUA), 2h09min40s

Feminino
Salina Kosgei (QUE), 2h32min16s; Dire Tune (ETI), 2h32min17s; Kara Goucher (EUA), 2h32min25s