A Corrida salva

Atualizado em 05 de setembro de 2007
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Da Revista O2

Soberba. Ira. Gula. Avareza. Preguiça. Luxúria. E inveja. Atire o primeiro par de tênis quem nunca pecou. Por mais comprometido que o corredor possa ser, é difícil encontrar o que nunca sucumbiu aos excessos de um churrasco ou à preguiça de largar a cama quentinha em uma manhã de treino longo.

Como ninguém é santo, os benefícios emocionais e fisiológicos da corrida ajudam a disciplinar o preguiçoso, a acalmar o irado, a equilibrar o avarento, tornar mais humilde o soberbo, a controlar o invejoso e a se preparar melhor para os prazeres da carne.

“Cometer um ou outro pecado, às vezes, é estimulante e necessário”, afirma Paulo Zogaib, médico especialista em medicina do esporte, fisiologia do exercício e coordenador do Centro de Medicina do Esporte do Hospital Sírio Libanês. O essencial, explica, é buscar o equilíbrio para conseguir ter qualidade de vida. “A corrida serve para reduzir os efeitos do excesso. E tornar a pessoa mais saudável.”

IRA: desejo descontrolado de vingança. Cólera. Raiva. Está diretamente associado à desonra, a brigas e à indignação.

Isso porque quando o corpo é sub­metido a uma situação de medo, raiva ou emergência, ele aumenta a produção de adrenalina, pois o organismo entende que haverá um desgaste físico.“No caso de exe­cutivos ou médicos, por exemplo, o desgaste é apenas emocional. Diferentemente do bombeiro que usa a corrida e se movimenta, produzindo a endorfina e esgotando, com o exercício, a quantidade de adrenalina acumulada no momento da tensão”, explica Zogaib.

AVAREZA: simboliza o desejo, o apego descontrolado pelos bens terrestres. Está ligada à dureza do coração (o contrário de misericórdia), aos enganos e à falsidade. Mesquinhez, sovinice.

Na corrida, alguns investimentos são essenciais, afirma o diretor técnico da MPR Assessoria Esportiva, Fábio Rosa. E a justificativa é simples: o amortecimento de um tênis de corrida dura, em média, 400 km. “Economizar na compra de um tênis novo pode custar uma lesão no joelho ou até uma fratura de estresse”, explica o técnico.

SOBERBA: Sensação de superioridade. Desprezo por outrem. Dela derivam os outros pecados. Foi a soberba de Adão que o levou a provar o fruto proibido com a ambição de tornar-se Deus.

“O ser humano tem a necessidade de se sobressair. O cara que não corre bem vai para o treino com as melhores roupas e acessórios, para chamar atenção. E quem tem algum ponto fraco que incomoda tenta mostrar superioridade com outras atitudes”, diz Fábio Rosa, da MPR.

GULA: vício de comer e beber em excesso; atração irresistível por doces e iguarias finas; é considerada um pecado venial (menos grave).

Correr para comer
“A manutenção do peso é um equilíbrio entre as calorias ingeridas e as gastas. Uma dieta restritiva não consegue ser mantida por muito tempo. O melhor artifício é usar as calorias da atividade física como saldo para um bom almoço e sentir no corpo a equação, diz a nutricionista Cibele Crispim, da RG Nutri.”

INVEJA: é o descontentamento com as conquistas e os bens alheios. É um pecado mortal porque é a antítese da caridade, ou seja, quanto mais valioso o bem desejado, maior o pecado.

“Ela mistura muitas vezes a motivação de realização com a de competição. Ao mesmo tempo em que se compete com um amigo, a pessoa usa outros atletas como espelho e se motiva pela realização, pelo ato de fazer melhor para chegar em determinado estágio”, explica o psicólogo do esporte e presidente da Ceppe (Consultoria, Estudo e Pesquisa da Psicologia do Esporte), João Ricardo Cozac.

PREGUIÇA: é a pouca disposição ou aversão ao trabalho, demora ou lentidão para fazer qualquer coisa. É um aborrecimento natural pelo trabalho no dia-a-dia.

A consciência, afirma Cozac, já é um grande passo para uma mudança de hábitos nessa parte. “O indivíduo preguiçoso precisa de um planejamento organizado e metas de realização e resultado.”

LUXÚRIA: representa o desejo desordenado pelos prazeres sexuais. Opõe-se à propagação da espécie, sendo consumado apenas para satisfazer as próprias paixões.

“É possível ser ser bonito e saudável sem cometer exageros que comprometam a saúde. O exagero para o lado da estética pode gerar um excesso de atividade física e de restrições”, finaliza Paulo Zogaib.